Cirurgia Reparadora
Tratamento de câncer de pele
O câncer de pele é o câncer mais comum, e em sua grande maioria o fator exposição solar tem grande responsabilidade na sua origem. Os sub tipos de cânceres de pele mais comuns são:
1º) O carcinoma basocelular (CBC): mais comum, e menos agressivo
2º) O carcinoma espinocelular (CEC): de frequência e agressividade intermediárias.
3º) O melanoma: mais raro e mais agressivo
Independente do subtipo, quanto mais precoce o diagnóstico, menos agressivo e mais eficiente será o tratamento, que geralmente é cirúrgico. E também é muito importante lembrar da prevenção, com uso de protetor solar no dia a dia, e consultas periódicas ao médico para avaliar a pele. Manchas ou nódulos na pele, de início recente, ou mudanças de aspecto em manchas antigas, aspecto perolado ou pigmentado, presença de bordas irregulares, ou que sangram facilmente, são sinais de alerta.
Reconstrução da mama
O câncer de mama é o segundo câncer mais comum em mulheres, e seu tratamento inclui, dependendo do estágio da doença ao diagnóstico, uma combinação entre cirurgia, radioterapia e quimioterapia. O melhor momento para a reconstrução, é imediatamente após a ressecção do tumor, por alguns motivos:
1º) O fato da paciente já acordar com a reconstrução impacta menos na auto estima feminina.
2º) A reconstrução imediata é tecnicamente melhor porque a cicatriz prévia, e radioterapia prévia pioram muito a qualidade dos tecidos a se trabalhar numa reconstrução tardia.
Há diversas técnicas de reconstrução mamária, que vão depender do tipo de ressecção, do desejo da paciente, das possibilidades de áreas doadoras, dos tratamentos prévios, da experiência do cirurgião, etc. Entre elas podemos citar: reposicionamento do próprio tecido mamário, colocação de expansor e prótese depois, colocação de prótese direto sem expansão prévia, retalho local com ou sem prótese, retalho regional com ou sem prótese (músculo grande dorsal, músculo reto abdominal), retalho microcirúrgico, feitura do complexo aréolo mamilar. Mas é preciso ter em mente que praticamente todas as técnicas são em vários estágios cirúrgicos, incluindo retoques.
Reconstrução em cirurgias de cabeça e pescoço
Outra área oncológica que geralmente recruta com frequência o auxílio do cirurgião plástico é a cirurgia de cabeça e pescoço, que trata de tumores em cavidade oral, nasal, laringe, mandíbula e maxila, pele da face, lábios, nariz, pálpebras, orelhas, couro cabeludo, etc. Nesses casos as ressecções muitas vezes geram alterações estéticas, além de dificuldades funcionais de fala, de mímica facial, de contenção de saliva, de alimentação, de abertura e fechamento do olho, que podem ser amenizadas com a entrada em conjunto de um cirurgião plástico, no mesmo tempo da ressecção de preferência, para otimizar os resultados.
Outras reconstruções oncológicas
Além das reconstruções mais conhecidas como mama, pele, e cabeça e pescoço, a cirurgia reparadora atua em muitas outras indicações oncológicas. Alguns exemplos são: reconstrução após retirada de tumores em membros; reconstrução após retirada de tumores de parede torácica, ou parede abdominal; tratamento de hérnias após essas retiradas de parede; reconstrução de períneo, vulva, vagina em tumores ginecológicos; correção de fístulas após tratamento de tumores ginecológicos ou coloretais, etc.
Reconstrução após traumas
Acidentes, quedas, brigas podem gerar lesões de tecidos delicados, de função específica, e de arquitetura tridimensional mais complexa como pálpebras, lábios, nariz e orelhas; ou de estruturas funcionais como nervos, vasos, tendões ou músculos. Algumas destas estruturas se reparadas incorretamente ou não reparadas podem gerar sequelas funcionais importantes e irreversíveis. Muitos traumas de partes moles podem estar associados a fraturas dos ossos da face. Estas devem ser tratadas cirurgicamente se houver alteração estética importante ou alteração de função, através da redução da fratura e colocação de placas de fixação e parafusos. As lesões nervosas, em face ou membros, podem ser tratadas com sutura, ou enxertia nervosa, ou retalhos neuromusculares tardiamente, mas se suspeitadas e tratadas (suturadas) no momento do primeiro atendimento, têm mais chances de resultado positivo. Lesões de membros, com fratura e exposição ou perda óssea, ou exposição de estruturas nobres como vasos, tendões ou nervos, devem protegidas com a cobertura feita por tecido vascularizado, conhecido como retalho, que dependendo do local a ser tratado pode ser um retalho local ou retalho microcirúrgico.
Microcirurgia reconstrutiva
A microcirurgia é uma técnica cirúrgica que permite a secção e transferência de tecidos de uma região doadora do corpo, para uma região receptora, que seja longe, e que a simples rotação do tecido doador não permite alcançar a a área receptora. Para esse tecido transferido manter-se vivo, é necessário o uso de suturas dos vasos (artéria e veia) com fios e instrumental tão delicados, que faz-se necessário o auxílio de microscópio cirúrgico, ou lupas, e treinamento específico. Ainda, a microcirurgia permite reparações e enxertos de nervos, também sob magnificação óptica. Essa técnica é uma ferramenta muito poderosa nas mãos da cirurgia reparadora, e muito usada por exemplo, em reconstruções complexas de membros após traumas, grandes reconstruções em cabeça e pescoço, opções mais sofisticadas de reconstrução de mama, reconstruções nervosas em membros, e tratamento de paralisia facial.
Correção de cicatrizes e quelóides
A cicatrização normal se dá em fases, e todo esse processo pode durar cerca de 1,5 a 2 anos. Alterações em alguma dessas fases pode gerar cicatrizes inestéticas ou patológicas. A cicatrizes queloideanas e hipertróficas caracterizam-se por excesso na fase proliferativa, e um volume exagerado, sendo que a queloideana ultrapassa os limites da ferida e a hipertrófica não. Os quelóides são mais frequentes em mulheres, jovens, pardas ou negras, e em locais como orelhas, e tórax. No entanto, podem acometer qualquer pessoa, em qualquer local. A cicatriz alargada acontece quando as forças tensionais sobre essa cicatriz são mais fortes que o tecido neoformado. A cicatriz deprimida acontece quando há perda importante de espessura de tecido durante o ferimento, e o tecido novo que se forma não é suficiente para repor a espessura. Durante as últimas fases da cicatrização, há uma contração da cicatriz, tanto para diminuir a área de ferida e fechar mais rápido, como para ter mais resistência. Porém se essa cicatriz estiver em área de dobras e articulações, essa contração provocará um cordão fibroso que limitará o movimento, como por exemplo esticar o cotovelo ou abrir os braços. A isso chamamos brida cicatricial. Encontramos frequentemente bridas em queimados. Quando a cicatriz é circular ou arqueada, a contração fisiológica sob esse formato produz um aprisionamento de tecido, que pode se elevar ou afundar, e a isso chamamos de cicatriz em alçapão. O tratamento das cicatrizes patológicas consiste em 3 técnicas, associadas ou não: cirurgia, infiltração intralesional de corticóide, e betaterapia.
Queimaduras e sequelas
Queimaduras são lesões pele de diferentes espessuras e extensões, provocadas por calor, eletricidade ou produtos químicos.
As queimaduras de 1º grau são as mais superficiais, aparecem somente como eritema (vermelhão) e dor, e normalmente aparecem após exposição solar prolongada sem proteção, ou exposições rápidas a calor mais intenso. Seu tratamento é hidratação local (cremes hidratantes), e normalmente não deixa marcas. As queimaduras de 2º grau são de espessura intermediária, onde a derme é destruída em espessura parcial, mas restam ainda ninhos mais profundos de células epiteliais que são responsáveis pela cicatrização, que dura em média 2 a 3 semanas e pode gerar manhas na pele mais claras ou mais escuras. As bolhas são características desse tipo de queimadura, e também há a presença de dor importante. O tratamento pode ser com ou sem curativos, retirando ou mantendo as bolhas, dependendo do tamanho destas e do grau de contaminação da ferida. Faz-se também necessário o uso de analgésicos. E dependendo da extensão há a necessidade de hidratação endovenosa, e internação.
As queimaduras de 3º grau são as mais profundas, e geralmente são associadas a exposição ao fogo, choques elétricos e exposição a produtos químicos. Seu aspecto é de uma pele amarelada e endurecida, e normalmente não dói, uma vez que as terminações nervosas também foram destruídas. Como a derme é destruída em toda espessura, não restam células epiteliais, e não ocorre a restauração da pele e sim a cicatrização, que demora muito mais, e apresenta contração da área da ferida e presença de tecido fibroso, mais duro, menos elástico e menos resistente que o original. O tratamento deste tipo de queimadura geralmente precisa de cirurgia para limpar o tecido morto (desbridamento), e substituí-lo por enxertos ou retalhos de pele, e dependendo da extensão também precisa de hidratação venosa , antibióticos, internação, às vezes até em U.T.I. O tratamento agudo é sempre feito em pronto socorro, com a avaliação de um cirurgião plástico, que a partir daí decidirá se o tratamento deve ser continuado internado ou em casa com retornos ambulatoriais. Cronicamente, paciente com queimaduras de 3º grau podem evoluir com retrações da pele não só inestéticas, como também limitantes para movimentos, e nesses casos também existe possibilidade de melhora com cirurgias de liberações de bridas, retalhos e enxertos.
Outro ponto importante é que cicatrizes de queimaduras antigas têm a pele enfraquecida, e ficam ulcerando repetidamente. Essa repetição pode gerar, ao longo de anos, um tipo de câncer de pele chamado Úlcera de Marjolin que deve ser prevenido com hidratação frequente da cicatriz, e seguimento médico com um cirurgião plástico.
Feridas crônicas
Feridas que se abrem na pele de pessoas com baixa mobilidade, cadeirantes, acamadas, ou ainda diabéticos de longa data são as chamadas úlceras de pressão (ou escaras). Elas aparecem por um motivo simples: não chega sangue para nutrir uma mesma área de pele que está apoiada numa mesma superfície por um longo tempo e esse tecido morre. Essa superfície pode ser, por exemplo, o assento de uma cadeira de rodas, uma cama, ou ainda o interior de um sapato apertado. Em pessoas saudáveis, essa pressão contínua no mesmo local por longo tempo incomoda e provoca dor, e as faz trocar o ponto de apoio, o que tecnicamente chamamos de mudança de decúbito. Porém, há pessoas que por motivo de doença, como paraplegia e diabetes, não sentem dor apesar da falta do sangue no tecido pressionado, e portanto não têm o estímulo para mudar de posição. Outras sentem a dor, mas não conseguem mudar de posição, pois estão fracas demais ou não têm movimentos, como idosos acamados, pacientes em U.T.I., ou algumas doenças neurológicas específicas. E tem um terceiro grupo de pessoas susceptíveis, que não sentem a dor e também não conseguem se mover para mudar o apoio, como paraplégicos, tetraplégicos e pacientes sedados. Para úlceras já estabelecidas, existem tratamentos sofisticados, como colchões especiais, antibióticos, suplementos alimentares, acompanhamentos nutricionais, curativos especiais, peles artificiais, terapias a vácuo, terapias hiperbáricas, cirurgias de enxertos e retalhos. Existem ainda fatores complicantes de uma úlcera já estabelecida: como desnutrição, infecção, umidade e má higiene no local da ferida, fricção nos lençóis; que devem ser tratados para não ampliar a úlcera ou piorar a condição clínica do paciente. Mas deve-se ter em mente que o tratamento mais é eficiente e barato é a prevenção, com mudança frequente do ponto de apoio.